Esse encontro com a magia dos livros, vai ficar em compasso de espera até ao próximo ano lectivo. Quero deixar neste espaço o meu louvor ao trabalho desenvolvido pela professora bibliotecária que apoiou o meu esforço para motivar os alunos para a leitura. À professora bibliotecária, a minha amizade e até novos encontros à roda das palavras, nos países de fadas, borboletas, perfumes, sons,lá, onde todos os sonhos se cruzam... Fico então aqui, suspensa, antevendo novos encontros com a BE/CRE, reinventando a "Carochinha e o João Ratão", na companhia da professora Lurdes Sampaio, com a supervisão da professora bibliotecária Luísa Grenha da Mota, ao som de músicas recreadas pelas professoras de Educação Musical do 1º e 2º ciclos que acompanham as turmas e dos professores de Educação Visual. A todos fica aqui então o meu convite.
O prazer de ler não se ensina. Vive-se. Sente-se. É fruição. O banho de leitura que emerge da vivência precoce do acto de ouvir ler, condiciona a forma como cada um percepciona o acto de ler. Primeiro, ouve-se ler. A leitura remete para outras experiências. Cores, sons, cheiros, mesclam-se nas páginas dos livros. A leitura liberta-os. O jovem, leitor em potência, capta o mundo sobre a perspectiva do outro… Apropria-se de sonhos, ideias, pensamentos, sentimentos e transforma-se. A metamorfose do não-leitor em bom leitor ocorre de forma lenta, pausada, ao sabor de páginas viradas, ora lidas, ora saltadas, na busca do prazer. A leitura não tem idade. Há leituras que apenas nos visitam. Há leituras que se instalam na nossa sala, no nosso quarto, na nossa alma e nos acompanham durante toda a vida. Ouvir ler, quando ainda estamos no ventre materno, é um privilégio a que nem todos têm acesso. Esta experiência condiciona os percursos e os meandros de leitura.
Primeiras reflexões sobre a génese da leitura. 11.11.2009
Muito cedo, antes da leitura, começa a leitura. Antes de ler o livro, a criança lê o mundo. Os primeiros contos, as primeiras canções de embalar, as primeiras leituras vão ficar sempre presentes e vão ser determinantes. Para lá das palavras, existe um mundo de sons, de ternura, de afectos. Ler é sentir. Ler também é compreender e viver. Ler é interpretar uma ideia, um pensamento e viajar a novos mundos e atingir horizontes amplos. A leitura é uma aprendizagem, uma exercitação, uma evolução. É um exercício mental que desencadeia o funcionamento do espírito. É um gesto humano de elevação. É sobretudo um gesto criador. O leitor, pelo gesto de ler, dinamiza o seu espaço ideológico. A leitura exige uma actividade intelectual constante. É imperioso que o interesse pela leitura não seja afectado pela metodologia do docente. Se na escola, ou fora dela, não existirem estímulos suficientes para a leitura, a criança nunca mais lê, ou lê pouquíssimo. É, pois, necessário criar na criança o prazer, o fascínio pela leitura, levando-a a viver com mais intensidade as suas experiências. Ler deverá ter o fascínio de uma leitura apaixonada. É essencial que as actividades da leitura apareçam como vitais. O docente deve incutir toda a confiança aos alunos através de um apoio adequado e uma cuidada atenção. O docente deverá estimular na criança uma capacidade leitora, crítica e imaginativa, que seja original, pessoal, não subordinada a outros. Deve também proporcionar leituras de qualidade, variadas. O livro tem de ser fonte de prazer e descoberta. No mundo dos nossos dias, um mundo de tecnologias e de stress, de incertezas, somos levados a pensar que a era da escrita terminou. Trata-se de negar o prazer tão especial que se pode experimentar em ler/escrever: conhecer os outros, captar outras experiências, ler nas entrelinhas de um texto e saborear o ritmo das palavras. À escola cabe a tarefa de proporcionar tempos e espaços de leitura diversificados e atraentes e oferecer actividades regulares de leitura e de contacto com o livro. Que caminhos seguir que levem o aluno a contactar com o mundo maravilhoso do livro? Que vivências proporcionar para que o aluno tenha o prazer de ler? Tantas questões que precisam que todos nós nos repensemos e nos envolvamos completamente de forma a que o nosso objectivo último de formação, o aluno, abra um livro e sinta prazer em ler. Acabe-se de vez com as antigas práticas! A luz entra de repente na Biblioteca e os livros adormecidos saem das prateleiras dos armários fechados e são colocados em estantes abertas à mão de qualquer leitor. Os livros têm de estar disponíveis nas bibliotecas, presentes, vindos dos países do faz de conta. A biblioteca escolar tem de ser um espaço sedutor e afectivo. Cada um de nós se deve interrogar a cada instante sobre as suas práticas e o seu papel como ponto de partida para novas mudanças. …
Chegou o tempo do livro O tempo de escutar o ritmo das palavras E sentir a chuva em cada letra Em cada linha ...
Até um próximo encontro À volta do livro e à procura de sentidos Novos sentidos num país de duendes Fadas e heróis Encontro com o imaginário Com a nossa infância A nossa vida A nossa essência. Eu permaneço nesta folha Na margem do livro À sombra das histórias contadas… Eu O livro…
Esse momento mágico Único Esse momento pleno Em que o livro me toca E me abre a alma Esse instante só meu E no entanto tão rico Tão fértil Eu e o livro…
Uma união Uma comunhão Um momento O livro está lá Presente Oiço as letras correr Atropelando as linhas Conversando com a lua Namorando com o sol Vozes cruzam-se
Olhares enamoram-se E um beijo Cruza toda a página Baloiço Danço E a minha voz Faz eco na capa do livro As horas passam E eu fico Na margem desta folha…
Para lá do sonho, para lá das paisagens, para lá das palavras, os livros condensam imaginação, movimento, cor, alegria, gestos do dia-a-dia, histórias do mundo e de nós próprios. A BECRE pulsa, as estantes cheias de livros convidam-nos a entrar. Abrimos um livro e todos os nossos pensamentos se concentram nas folhas repletas de histórias deliciosas que nos fazem chorar, rir, viver, sentir. A vida lá fora passa para segundo plano. De repente, o meu olhar desvia-se… Chegou a hora do conto. Ao som de uma voz doce e melodiosa, uma história ganha vida. A leitura torna-se verdadeiramente significativa. Crianças, de olhos atentos, no mundo das histórias, entre a terra e o sonho, mergulham na aventura de formigas num formigueiro, formigas rabinas que vencem um urso peludo, trombudo com patinhas de veludo. À beira do rio, uma pimenteira verde, salpicada de bolinhas cor-de-rosa dá grãos de pimenta. E a história continua… Continua… Os minutos correm, as palavras dançam, embalam, encantam. Falam daquele mundo que é nosso, misto de afecto e segurança, carinho e atenção. As palavras ficam lá, dentro, entre o sonho e o real. Lá, segurando o fio dos afectos. E as crianças pegam em lápis e começam a pintar e a desenhar a história da formiga e do urso peludo. E o fio continua… A Beatriz, de óculos azuis e dois ganchos de pérolas brilhantes, ouviu a história e diz que se divertiu, a Cristina pega no lápis e desenha o urso peludo que queria comer a formiga, a Patrícia sentiu que a história era muito bonita e diz que o escritor faz a história para a lermos e ouvirmos, a Esperança, o Pedro, a Rita e a Diana dizem o mesmo. Para o João, o livro é um conjunto de letras e para o Pedro também. Para a Telma, um livro são muitas folhas juntas que têm letras e desenhos. A contadora de histórias, num tapete mágico, conduziu os jovens leitores ao mundo dos livros, lá, no reino do faz-de-conta.
Manuela Matos 17.11.2009
A minha palavra de despedida à professora Lurdes Sampaio
6 comentários:
Esse encontro com a magia dos livros, vai ficar em compasso de espera até ao próximo ano lectivo.
Quero deixar neste espaço o meu louvor ao trabalho desenvolvido pela professora bibliotecária que apoiou o meu esforço para motivar os alunos para a leitura.
À professora bibliotecária, a minha amizade e até novos encontros à roda das palavras, nos países de fadas, borboletas, perfumes, sons,lá, onde todos os sonhos se cruzam...
Fico então aqui, suspensa, antevendo novos encontros com a BE/CRE, reinventando a "Carochinha e o João Ratão", na companhia da professora Lurdes Sampaio, com a supervisão da professora bibliotecária Luísa Grenha da Mota, ao som de músicas recreadas pelas professoras de Educação Musical do 1º e 2º ciclos que acompanham as turmas e dos professores de Educação Visual.
A todos fica aqui então o meu convite.
Um abraço, Luísa, e toda a minha gratidão,
Manuela Matos
Leitura
Génese de um bom leitor
O prazer de ler não se ensina. Vive-se. Sente-se. É fruição.
O banho de leitura que emerge da vivência precoce do acto de ouvir ler, condiciona a forma como cada um percepciona o acto de ler.
Primeiro, ouve-se ler. A leitura remete para outras experiências. Cores, sons, cheiros, mesclam-se nas páginas dos livros. A leitura liberta-os. O jovem, leitor em potência, capta o mundo sobre a perspectiva do outro… Apropria-se de sonhos, ideias, pensamentos, sentimentos e transforma-se. A metamorfose do não-leitor em bom leitor ocorre de forma lenta, pausada, ao sabor de páginas viradas, ora lidas, ora saltadas, na busca do prazer.
A leitura não tem idade. Há leituras que apenas nos visitam. Há leituras que se instalam na nossa sala, no nosso quarto, na nossa alma e nos acompanham durante toda a vida. Ouvir ler, quando ainda estamos no ventre materno, é um privilégio a que nem todos têm acesso. Esta experiência condiciona os percursos e os meandros de leitura.
Primeiras reflexões sobre a génese da leitura.
11.11.2009
Leitura
Muito cedo, antes da leitura, começa a leitura. Antes de ler o livro, a criança lê o mundo.
Os primeiros contos, as primeiras canções de embalar, as primeiras leituras vão ficar sempre presentes e vão ser determinantes.
Para lá das palavras, existe um mundo de sons, de ternura, de afectos. Ler é sentir. Ler também é compreender e viver. Ler é interpretar uma ideia, um pensamento e viajar a novos mundos e atingir horizontes amplos.
A leitura é uma aprendizagem, uma exercitação, uma evolução. É um exercício mental que desencadeia o funcionamento do espírito. É um gesto humano de elevação. É sobretudo um gesto criador. O leitor, pelo gesto de ler, dinamiza o seu espaço ideológico. A leitura exige uma actividade intelectual constante.
É imperioso que o interesse pela leitura não seja afectado pela metodologia do docente. Se na escola, ou fora dela, não existirem estímulos suficientes para a leitura, a criança nunca mais lê, ou lê pouquíssimo. É, pois, necessário criar na criança o prazer, o fascínio pela leitura, levando-a a viver com mais intensidade as suas experiências. Ler deverá ter o fascínio de uma leitura apaixonada.
É essencial que as actividades da leitura apareçam como vitais. O docente deve incutir toda a confiança aos alunos através de um apoio adequado e uma cuidada atenção. O docente deverá estimular na criança uma capacidade leitora, crítica e imaginativa, que seja original, pessoal, não subordinada a outros. Deve também proporcionar leituras de qualidade, variadas. O livro tem de ser fonte de prazer e descoberta.
No mundo dos nossos dias, um mundo de tecnologias e de stress, de incertezas, somos levados a pensar que a era da escrita terminou. Trata-se de negar o prazer tão especial que se pode experimentar em ler/escrever: conhecer os outros, captar outras experiências, ler nas entrelinhas de um texto e saborear o ritmo das palavras.
À escola cabe a tarefa de proporcionar tempos e espaços de leitura diversificados e atraentes e oferecer actividades regulares de leitura e de contacto com o livro.
Que caminhos seguir que levem o aluno a contactar com o mundo maravilhoso do livro? Que vivências proporcionar para que o aluno tenha o prazer de ler? Tantas questões que precisam que todos nós nos repensemos e nos envolvamos completamente de forma a que o nosso objectivo último de formação, o aluno, abra um livro e sinta prazer em ler.
Acabe-se de vez com as antigas práticas! A luz entra de repente na Biblioteca e os livros adormecidos saem das prateleiras dos armários fechados e são colocados em estantes abertas à mão de qualquer leitor. Os livros têm de estar disponíveis nas bibliotecas, presentes, vindos dos países do faz de conta. A biblioteca escolar tem de ser um espaço sedutor e afectivo.
Cada um de nós se deve interrogar a cada instante sobre as suas práticas e o seu papel como ponto de partida para novas mudanças. …
Chegou o tempo do livro
O tempo de escutar o ritmo das palavras
E sentir a chuva em cada letra
Em cada linha ...
Até um próximo encontro
À volta do livro e à procura de sentidos
Novos sentidos num país de duendes
Fadas e heróis
Encontro com o imaginário
Com a nossa infância
A nossa vida
A nossa essência.
Eu permaneço nesta folha
Na margem do livro
À sombra das histórias contadas…
Eu
O livro…
Manuela Matos
2009.11.17
Eu e o Livro…
Esse momento mágico
Único
Esse momento pleno
Em que o livro me toca
E me abre a alma
Esse instante só meu
E no entanto tão rico
Tão fértil
Eu e o livro…
Uma união
Uma comunhão
Um momento
O livro está lá
Presente
Oiço as letras correr
Atropelando as linhas
Conversando com a lua
Namorando com o sol
Vozes cruzam-se
Olhares enamoram-se
E um beijo
Cruza toda a página
Baloiço
Danço
E a minha voz
Faz eco na capa do livro
As horas passam
E eu fico
Na margem desta folha…
Manuela Matos
Encontro com a Leitura
Para lá do sonho, para lá das paisagens, para lá das palavras, os livros condensam imaginação, movimento, cor, alegria, gestos do dia-a-dia, histórias do mundo e de nós próprios.
A BECRE pulsa, as estantes cheias de livros convidam-nos a entrar. Abrimos um livro e todos os nossos pensamentos se concentram nas folhas repletas de histórias deliciosas que nos fazem chorar, rir, viver, sentir.
A vida lá fora passa para segundo plano.
De repente, o meu olhar desvia-se… Chegou a hora do conto. Ao som de uma voz doce e melodiosa, uma história ganha vida. A leitura torna-se verdadeiramente significativa.
Crianças, de olhos atentos, no mundo das histórias, entre a terra e o sonho, mergulham na aventura de formigas num formigueiro, formigas rabinas que vencem um urso peludo, trombudo com patinhas de veludo. À beira do rio, uma pimenteira verde, salpicada de bolinhas cor-de-rosa dá grãos de pimenta. E a história continua… Continua… Os minutos correm, as palavras dançam, embalam, encantam. Falam daquele mundo que é nosso, misto de afecto e segurança, carinho e atenção. As palavras ficam lá, dentro, entre o sonho e o real. Lá, segurando o fio dos afectos.
E as crianças pegam em lápis e começam a pintar e a desenhar a história da formiga e do urso peludo. E o fio continua…
A Beatriz, de óculos azuis e dois ganchos de pérolas brilhantes, ouviu a história e diz que se divertiu, a Cristina pega no lápis e desenha o urso peludo que queria comer a formiga, a Patrícia sentiu que a história era muito bonita e diz que o escritor faz a história para a lermos e ouvirmos, a Esperança, o Pedro, a Rita e a Diana dizem o mesmo. Para o João, o livro é um conjunto de letras e para o Pedro também. Para a Telma, um livro são muitas folhas juntas que têm letras e desenhos.
A contadora de histórias, num tapete mágico, conduziu os jovens leitores ao mundo dos livros, lá, no reino do faz-de-conta.
Manuela Matos
17.11.2009
A minha palavra de despedida à professora Lurdes Sampaio
Fico sempre orgulhosa quando vejo ex alunas a receber prémios...
Parabéns a todos os vencedores.
Flora Queirós
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